A Heresia Lésbica — Sheila Jeffreys

Carla Gomes (@carlahenriqueg)
24 min readNov 8, 2023

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Capítulo 1- A Criação da Diferença Sexual

Nos anos 1980, uma séria batalha foi travada acerca do significado do lesbianismo. Nesse conflito ideológico, as definições em disputa são as do feminismo lésbico e o da sexologia. Algumas lésbicas, particularmente as proponentes da encenação de papéis sexuais entre lésbicas, se opõem à definição política do feminismo lésbico, propondo uma baseada na diferença sexual. Lésbicas que vêem a si mesmas como sendo sexualmente diferentes estão aceitando um enquadramento para categorizar o comportamento sexual que os “cientstas” do sexo, Richard con Krafft-Ebing e Henry Havelock Ellis e seu tipo, definiram no final do século XIX. Os sexólogos e seus seguidores modernos vêem o lesbianismo como um comportamento entre uma variedade de comportamentos sexuais estranhos que diferem da norma sexual ou do coito heterossexual “papai e mamãe”. Outros grupos dos sexualmente diferentes incluem homens gays, mas também pedófilos, transexuais e inúmeras variedades de fetichistas. Fora o lesbianismo, essas são, de modo geral, categorias de comportamento sexual masculino e mulheres aparecem apenas como vítimas do comportamento sexual diferente.

A política da diferença sexual coloca lésbicas na companhia de homens gays e dos outros grupos dos sexualmente diferentes. A política da diferença sexual está se manifestando, atualmente, em muitos dos escritos da nova literatura “queer”. A política do feminismo lésbico coloca lésbicas na companhia da classe política de mulheres ou em seus próprios recursos como lésbicas. Feministas lésbicas têm tido a tendência de verem a si mesmas como a norma para mulheres livres, e não como sexualmente diferentes. É uma visão diferente. Para entender a raiz desse conflito de definições, é útil retomar a criação da diferença sexual na sexologia e o modo como estudiosas lésbicas e gays viram isso.

Teóricas lésbicas e gays, como Mary McIntosh e Jeffrey Weeks, têm argumentado persuasivamente que a ideia do homossecualm como um tipo específico de pessoa, de um “papel homossexual”, era uma invenção relativamente recente, do séxulo XVIII ou XIX. Antes desse desenvolvimento, a atividade sexual entre homens, embora estigmatizada, era vista como algo que qualquer homem poderia fazer. O conceito do “homossexual”, um homem cuo comportamento tinha uma causa particular, que teria uma carreira reconhecidamente homossexual, sujos interesses sexuais eram dirigidos exclusivamente para aqueles do mesmo sexo e que teriam características reconhecíveis ainda não havia sido desenvolvida.

Historiadoras lésbicas e feministas, como Lillian Faderman e Caroll Smith-Rosenberg, também argumentarm que uma identidade lésbica específica, baseada nas categorizações da sexologia, foi criada no fim do século XIX. Elas mostraram que antes disso, mulheres britânicas e americanas de classe média, casadas e solteiras, rotineiramente se envolviam em amizades íntimas e românticas, muitas vezes a longo prazo, umas com as outras que incluíam constantes manifestações de amor exuberante, dormir nos braços uma da outra, no mesmo travesseiro, sem verem isso como algo incomum ou suspeito ao longo de toda a vida. Haviam algumas mulheres, contudo, ao longo do século XIX, que poderiam se encaixar no modelo sexológico desenvolvido mais tarde, algumas as quais chegavam a se vestir com roupas masculinas e amavam mulheres, apesar da ausência de um modelo sexológico. Uma mulher chamada Ann Lister, de Yorkshire no início do século XIX, por exemplo, se envolvia em relacionamentos sexuais entusiásticos com uma mulher vizinha a ponto de contrair doença venérea, como ela indica em seus diários, e tinha um conceito de si como “diferente”. Entretanto, a existência dessas mulheres não parecem ter influenciado a inocência com a qual amigas íntimas viam seus relacionamentos com outras mulheres ou a aceitação do amor de mulheres pelo mesmo sexo. Foi a ascensão da sexologia que publicizou e estigmatizou a categoria da “diferença sexual”.

Historiadores lésbicas e gays têm discordado sobre se as construções sexológicas acerca da homossexualidade tiveram resultados positivos ou negativos para o desenvolvimento das identidades lésbica e gay. Historiadoras lésbicas e feministas coo Lillian Faderman, Caroll Smith-Rosenberg e eu mesma, temos visto a sexologia como uma força hostil que enfraquece o feminismo, estigmatiza as amizades íntimas de mulheres e cria um estereótipo prejudicial da mulher invertida masculina. Homens gays historiadores, como Jeffrey Weeks, têm tido a tendência a serem mais positivos e têm argumentado que a categorização sexológica ajudou no desenvolvimento de um movimento pelos direitos homossexuais ao oferecer a homens homossexuais uma identidade definida em torno da qual eles poderiam se unir e se organizar.

É importante estar atenta aos componente da construção sexológica não apenas porque ela se tornou fonte de controvérsia, mas porque está fazendo um retorno na política lésbica contemporânea e é útil poder reconhecê-la. Um componente genericamente aceito do modelo sexológico foi a atribuição da congenitalidade. Havelock Ellis, o sexologista cujo livro Sexual Inversion, de 1897, foi muito influente na construção do estereótipo da lésbica na Grã-Bretanha, argumentou que “qualquer teoria da etiologia da homossexualidade que deixe de lado o fator hereditário da inversão não pode ser admitida”, e cita como evidência a “frequência da inversão entre parentes próximos ao invertido”. Essa ideia levou a um material divertido em seus estudos de caso. Parece que, quando era pedido aos participantes que produzissem evidência sobre o fator hereditário, às vezes eles eram muito criativos em suas respostas. Um homem ofereceu o seguinte:

Poderia-se dizer que meu avô tinha um temperamento anormal, pois, embora de origem muito humilde, ele organizava e executava um trabalho missionário muito árduo e se tornou um linguista muito realizado, tendo traduzido a Bíblia para uma língua Oriental e compilado o primeiro dicionário dessa língua.

Admitidamente, isso pode parecer suspeito para algumas pessoas, mas não está necessariamente conectado à homossexualidade. Todavia, a ideia da congenitalidade inspirou alguns defensores dos direitos dos homossexuais, nos anos 1990, na Grã-Bretanha e na Alemanha. Eles propuseram que se pedisse a simpatia do público e repelisse as leis hostis com o argumento de que homossexuais eram apenas uma parte da criação da natureza, ao invés de pecadores, e, portanto, deveriam ser aceitos. Radclyffe Hall, quando ela adotou argumento sexológicos nos anos 1920, empregou essa estratégia em The Well of Loneliness e convidou Ellis para escrever um prefácio para o livro, para que seu argumento pudesse ser percebido como sendo apoiado pela ciência. O modelo sexológico tornou-se mais sofisticado com uma mistura de psicanálise, que postulava uma causa igualmente determinista, porém psicológica ao invés de biológica. Em função de a psicanálise parecer oferecer possibilidade de cura, era menos popular entre os invertidos e tornou-se mais popular com sexólogos que estavam comprometidos com a eliminação da homossexualidade por meio da psicoengenharia, nos anos 1950. Ambas as versões da sexologia estão tendo uma espécie de renascimento. A nova popularidade das explicações biológicas serão examinadas em detalhe no meu capítulo “A Lésbica Essencial”.

A atual controvérsia sobre o impacto da sexologia gira em torno da maneira como ela foi captada e empregada pelos próprios invertidos. O trabalho de Edward Carpenter, o ativista britânico pelos direitos homossexuais, é um bom exemplo do que alguns historiadores poderiam ver como o uso positivo dessas ideias. Ele baseou boa parte de seu argumento em defesa da aceitação social da homossexualidade no trabalho de uma variedade formidável de sexólogos. Ele pegou a ideia de congenitalidade para construir sua teoria do “sexo intermediário”. Em seu trabalho, ele reproduziu o entendimento de alguns sexólogos de que o terceiro sexo, ou sexo intermediário, possuía características da masculinidade e da feminilidade em combinações não usuais. Isso fica mais evidente em sua descrição dos “espécimes extremos”. O sexo intermediário no extremo masculino era um “um tipo nitidamente efeminado, sentimental, indiferente, mesquinho no andar e nas maneiras”. A versão extrema da fêmea “homogênea” era similarmente dotada de características de gênero inapropriadas.

… uma pessoa marcadamente agressiva, com paixões fortes, maneiras e movimentos masculinos, prática na sua forma de conduzir a vida, lasciva ao invés de sentimental no amor, com frequência sem higiene, extravagante em seus trajes, sua aparência era muscular, sua voz grave; sua habitação era decorada com imagens de esportes, pistolas e etc, e com uma suspeita fragrância de erva no ar; enquanto seu amor (geralmente direcionado a um espécime delicado e feminino de mesmo sexo ao seu) é com frequência uma espécie de furor, similar ao amor ordinariamente masculino, e às vezes quase incontrolável.

O cheiro de erva era, provavelmente, de forma bastante decepcionante, tabaco. Tais espécimes extremos, Carpenter afirma, são raros. A maioria não parece ser atípica na aparência. O corpo das mulheres homogêneas “mais normais” era “completamente feminino”, mas a “natureza interna era em grande medida masculina”.

… um temperamento ativo, corajoso, inventivo, um tanto decisivo, não muito emocional; apreciadora de atividades ao ar livre, de jogos e esportes, de ciências, política e mesmo negócios; boa em organização, e satisfeita em posições de responsabilidade, podendo ser uma líder excelente e generosa.

Os leitores atuais podem não conseguir ver facilmente o que era “masculino” nessa descrição. Na verdade, ela demonstra outra característica da abordagem sexológica a respeito da invertida fêmea. Ativistas dos direitos homossexuais, como Carpenter, e homens da ciência, como Ellis, todos tenderam a associar assertividade em mulheres, independência e uma mudança feminista na mentalidade, com lesbianismo. Tais qualidades eram, nos anos 1890, suficientes para atrair acusações de inversão, como são hoje. Mulheres fortes podem ser classificadas como antinaturais.

Outra característica da abordagem sexológica ao lesbianismo era prescrever encenação de papéis sexuais para relacionamentos lésbicos. Carpenter segue a tradição ao afirmar que o tipo muito masculino geralmente amaria “espécimes um tanto delicados e femininos do mesmo sexo que o seu”.Os sexólogos explicaram esse fenômeno ao afirmar que existiriam dois tipos de homossexuais fêmeas. Haveriam as invertidas “congênitas”, que seriam masculinas em orientação, e as “pseudo lésbicas” que poderiam ter se tornado heterossexuais, caso não tivessem sido vítimas das artimanhas das invertidas verdadeiras. A segunda teria aparência e comportamento típicos da mulher heterossexual feminina de seu tempo. Dessa forma, os fundamentos foram colocados para a ideia de que a encenação de papéis butch e femme seria essencial para o relacionamento lésbico.

De maneira interessante, o modelo sexológico do lesbianismo não era baseado, necessariamente, no contato genital. Os sexólogos lançaram suas redes amplamente e incluíram mulheres que se encaixariam na mais inocente imagem de amigas íntimas em seus estudos de caso sobre inversão. Por essa razão, historiadoras feministas consideraram o trabalho de sexólogos particularmente prejudicial. Ele é visto como tendo criado uma suspeita que limitou as possibilidades das amizades entre mulheres para qualquer uma que não desejasse se juntar a uma minoria estigmatizada. O trabalho de sexólogos estimulou uma campanha, como Faderman detalha em seu livro, para alertar mulheres e meninas contra o lesbianismo em escolas e colégios até que, nos anos 1920, a amizade próxima entre mulheres tinha adquirido, de modo quase generalizado, uma aura de perversão. Lillian Faderman acusa a sexologia de ter tornado lesbianismo em algo perverso, marginalizado e condenado. Os efeitos foram:

…muitas mulheres refugiaram-se no casamento heterossexual ou desenvolveram grande auto-desprezo ou auto-piedade, se aceitavam o rótulo de invertidas. No início do século X, a literatura popular europeia, amplamente influenciada pelos sexólogos, falaca em “milhares de seres infelizes” que “experimentavam a tragédia da inversão em suas vidas”, e a paixões que “terminavam em loucura ou suicídio”. No imaginário popular, o amor entre mulheres estava tornando-se equivalente a doença, insanidade e tragédia.

Historiadoras feministas lésbicas vêem a categorização sexológica de lésbicas como constitutivas de um mecanismo de controle social do amor de mulheres por outras mulheres e também do feminismo, fenômenos que foram particularmente poderosos, quando combinados.

Carroll Smith-Rosenberg, que escreeu o artigo germinal sobre amizades íntimas, The Female World of Love and Ritual, vê a tomada sexológica sobre o discurso feminista tão prejudicial quanto, nos anos 1920. Ela fala a respeito da importância, na história feminista e lésbica, da “nova mulher” no final do século XIX. As “novas mulheres” formavam amizades íntimas, para apoiarem umas às outras durante a faculdade, trabalhavam em casas de assentamento e no desenvolvimento de carreiras de assistência social e de ensino. Elas “ teceram as amizades intensamente amorosas e com frequência íntimas de suas mães no tecido de seu admirável mundo novo”. Elas foram reformadoras sociais que conectaram e criaram uma máquina de mudança, com frequência fortemente feminista. Elas foram, claro, a espinha dorsal de muitas campanhas feministas, notavelmente no Women’s Social and Political Union (WSPU), no Reino Unido. Smith-Rosenberg explica que homens da carreira médica do final da era Vitoriana caracterizam a “nova mulher” como masculinas e, depois, como “lésbicas masculinizadas”. Ela vê a definição sexual do lesbianismo oferecida pelos sexólogos como subordinadora de lésbicas, e não como empoderadora. “Ao constituí-la como um objeto sexual, eles fazem dela um objeto da regulação política do Estado”.

Amizades íntimas ou românticas geraram controvérsias entre pesquisadoras lésbicas. Celebrada por Smith-Rosenberg e Faderman, elas têm sido ridicularizadas como classe-média ou anti-sexo por alguns. Discordâncias acerca das amizades íntimas surgem de diferentes visões sobre o que constitui a identidade lésbica. Quando ela escreveu Surpassing the Love of Men, Faderman viu as mulheres envolvidas em tais amizades como semelhantes às lésbicas feministas dos anos 1970. Faderman viu o feminismo lésbicas como um “análogo” das amizades românticas que ela vou como aquelas nas quais “duas mulheres eram tudo uma para a outra e tinham pequena conexão com homens que eram tão alienantemente e totalmente diferentes”. Ela sugere que “se a amizade romântica tivesse sobrevivido até hoje, muitas delas teriam sido feministas lésbicas; e se as feministas lésbicas de nossos dias vivessem em outras eras, muitas delas teriam sido amigas íntimas”. A definição de lesbianismo de Faderman não depende de contato genital. Ela diz que “amor entre mulheres tem sido primariamente um fenômeno sexual apenas na literatura de fantasia masculina”. Ela funda sua definição em emoções e diz que “contato sexual pode ser uma parte da relação em um grau maior ou menos, ou pode estar inteiramente ausente”. Ela conta que feministas lésbicas contemporÂneas não são inocentes acerca do sexo, mas que “os aspectos sexuais de seus relacionamentos geralmente têm menor significância que o apoio emocional e a liberdade que têm para definirem a si mesmas”. Ela sugere que muitos relacionamentos feministas lésbicas perduram muito tempo após o “componente sexual ter se desgastado”.

Os críticos de Faderman a acusaram de traição, de “dessexualizar” o lesbianismo ao incluir, em sua definição de lesbianismo, mulheres que não tiveram contato genital no passado ou que têm raro contato genital no presente. Aos que vêem o lesbianismo como diferença sexual, amigas íntimas claramente não se qualificariam como lésbicas, mas, para feministas para quem a escolher e amar mulheres é a base de uma identidade lésbica, elas se qualificam. A conjunção genital é difícil de se provar. Caso a união genital seja adotada, lésbicas serão deveras raras ao longo da história, e a história lésbica se iniciará apenas no século XIX. A história da heterossexualidade nunca foi limitada pela necessidade de comprovar a união genital. A heterossexualidade é uma instituição política que não começou com a sexologia em 1890. Não é apenas uma variedade de diferença sexual. Como eu e outras membras do London Lesbian Group sugerimos, a tarefa da historiadora lésbica é analisar a história da resistência de mulheres à heterossexualidade como uma instituição, ao invés de simplesmente buscar mulheres que se encaixavam em um estereótipo do século XX baseado na sexologia.

A nova caracterização não foi simplesmente rejeitada por mulheres que amavam mulheres. Algumas escolheram adotá-la como sua auto-definição nos anos 1920. Havia pressão sobre as mulheres em geral para serem sexuais. Como eu detalhei em outro lugar, a “revolução sexual” dos anos 1920 visava curar o feminismo, o ódio ao homem, o lesbianismo e o fenômeno de mulheres solteironas, os grandes pesadelos dos homens da ciência, ao conquistar a participação heterossexual de mulheres, preferencialmente de todas as mulheres, no ato sexual. Era esperado que o prazer sexual de mulheres nessa prática a subordinasse ao seu marido no casamento e em outras áreas da vida. Houve considerável pressão exercida para recrutar a mulher para a posição de missionária na heterossexualidade, de modo que seus prazeres pudessem ser orquestrados para sua subordinação. Smith-Rosenberg argumenta que mulheres jovens heterossexuais aceitaram essa distração.

Ao separar os direitos de mulheres de seu contexto político e econômico, fizeram com que a busca da filha por prazeres heterossexuais personificasse a liberdade feminina, e não a demanda materna por poder político.

A estigmatização do lesbianismo foi uma arma poderosa que poderia ser usada para pressionar mulheres à heterossexualidade. A lésbica marginalizada era um complemento necessário à entusiástica dona de casa heterossexual.

Mulheres que amavam mulheres e estavam cientes do discurso sexológico tiveram que fazer uma escolha sobre como se identificar à nova prescrição. Haviam três possibilidades abertas a elas. Elas poderiam abandonar as amizades íntimas em uma tentativa de evitar o estigma de desviante. Elas poderiam continuar com suas amizades íntimas, mas rejeitar o modelo sexológico como não tendo nada a ver com elas. Muitas, sem dúvidas, tomaram esse curso, mas deve ter sido carregada de dificuldades. Ou elas poderiam adotar a nova identidade que lhes estava sendo oferecida. Smith-Rosenberg e Newton argumentam que muitas o fizeram e que essa decisão tiveram consequencias para o feminismo e para a história lésbica futura. Elas sentiram raiva da geração mais antiga, a quem não havia sido oferecida uma definição sexual específica para o amor de mulheres em um tempo em que o sexo estava se tornando estrito e, portanto, elas falharam em prover a geração seguinte com um “vocabulário sexual”. O exemplo mais famoso, claro, é Radcliffe Hall, que escolheu adotar o modelo sexológico em O Poço da Solidão porque ela acreditava que isso levaria a uma maior aceitação social a lésbicas desprezadas, se elas fossem vistas como sendo congenitamente falhas, ao invés de pervertidas deliberadas.

Smith-Rosenberg argumenta que a adoção do estereótipo de “lésbica masculina” teve implicações negativas para o feminismo. As lésbicas mais novas foram excluídas da geração mais antiga de feministas para que ficassem vulneráveis, quando homens exercessem seu poder de reação contra as conquistas do feminismo. A adoção dos símbolos da masculinidade não foi libertadora, apesar dos esforços dos anos 1920 e das lésbicas subsequentes em investirem-no de novos e positivos significados lésbicos. Nessa última tarefa, ela conclui “Elas falharam”. Faderman explica que a adoção de um status estigmatizado e fora da lei levou à preocupação da literatura lésbica com a condenação e punição até os anos 1960.

A historiadora lésbica Esther Newton utiliza uma abordagem muito diferente. Ela zomba da maneira que ela vê historiadoras feministas lésbicas falarem do mundo das amizades íntimas, “o século XIX se torna uma espécie de Era de Ouro lésbica, cheia de casais feministas apaixonados e inocentes”. Ela vê a identidade da “lésbica masculina” como tendo sido adotada por aquelas que queriam “romper com o modelo assexual de amizade romântica”. Radcliffe Hall, explica ela, queria fazer da mulher que ama mulheres um ser sexual, e só pôde fazer isso adotando o estereótipo masculino e tornando-se sexual nos termos masculinos “Para se tornar declaradamente sexual, a Nova Mulher teve que entrar no mundo masculino, seja como uma heterossexual em termos masculinos… ou como uma lésbica no corpo masculino drag”. Ela vê isso como um ato radical e progressista que desafia os estereótipos de gênero. Ao fazer a mulher encenar um papel masculino, Hall “questiona a inevitabilidade das categorias tradicionais de gênero”, mas ela também “consente com eles”. Ela aceita que homens têm podido usar a imagem butch para “condenar lésbicas e intimidar mulheres heterossexuais” e reconhece que a visão de Hall da identidade lésbica, que ela caracteriza como “diferença sexual e como masculinidade é hostil à ideologia feminista lésbica”.

As interpretações muito diferentes do impacto da sexologia, que são abundantes hoje, estavam marcadas, de modo similar, quando o romance foi publicado pela primeira vez. Feministas estavam, com frequência, muito insatisfeitas com a criação de Hall. Vera Brittain é uma das feministas que editaram Time and Tide. Ela estava bem consciente do potencial de amar mulheres desde que ela havia se envolvido em uma amizade íntima com Winifred Holtby. Em sua resenha, ela aceita que há uma categoria de lésbicas que é inerentemente anormal e uma que não é, identificando-as, mais tarde no livro, como invertidas versus pervertidas.

…mulheres do tipo de Stephen Gordon, na medida em que sua anormalidade é inerente, e não meramente um culto desnecessário de uma erótica exótica, merecem plena consideração e compaixão de todos o que têm sorte o suficiente para terem escapado de uma das mais cruéis obras da Natureza.

Brittain claramente não se vê como tendo qualquer conexão com tais anormais como invertidas e pervertidas, apesar de seu amor por mulheres. Isso mostra que um impacto da sexologia é separar lésbicas da classe de mulheres. O “culto de uma erótica exótica” soa muito tentador, quase um toque de clarim para política “queer”. Contudo, quando se considera as manifestações exageradas de masculinidade e feminilidade de Stephen e sua amante Mary Llewellyn, Brittain rejeita a mensagem de que elas partem da biologia. Ao invés disso, ela culpa a imposição de tais distinções exageradas de gênero no final do século XIX.

Certamente parece provável que um problema desse tipo deva ser intensificado pela exageração das diferenças entre os sexos, que têm sido particularmente acentuadas em certas épocas do mundo, e para as quais a classe média inglesa dos séculos XVIII e XIX estava particularmente propensa. Srta. Hall parece tomar como certo que essa ênfase exagerada nas características sexuais é parte da educação correta do ser humano normal; ela, portanto, torna sua mulher “normal” apegada e exasperadamente “feminina” e até descreve as atitudes em direção ao amor como “um fim em si mesmo” como sendo um atributo necessário da feminilidade.

Brittain estava escrevendo em 1928, muito antes de o termo “gênero” estar em uso, mas ela consegue analisar criticamente o que seria, hoje em dia, chamado de gênero e ver sua construção social e política. Brittain não aceitava a ideia da encenação lésbica, uma vez que ela claramente acreditava que mulheres não deveriam comportar-se de maneira masculina ou feminina, “Essa confusão entre o que é ‘masculino’ ou ‘feminino’ e o que é meramente humano em nossa complexa composição, persiste ao lindo do livro”. Ela não aceita que o comportamento de Stephen na infância seja uma pista de sua anormalidade. Ela diz que as “predileções supostamente sinistras da criança” lhe parecem ser “as preferências bastante usuais de qualquer jovem mulher vigorosa a quem ocorre de ter mais vitalidade e inteligência que suas colegas”. O feminismo do senso comum de Brittain está em nítdo contraste com as visões de Esther Newton e de outras protagonistas da encenação de papéis sexuais atualmente. É encorajador observar que feministas nos anos 1920 podiam ser tão determinadas em sua resistência ao modelo sexológico de invertidos masculinos e pseudo-homossexuais femininas quanto qualquer feminista lésbica contemporânea.

Brittain via que o desejo de mulheres por liberdade havia sido capturada por um estereótipo de lésbica masculina, que a categoria sexológica era uma tentativa de controle, e não de liberação.

Se um dos resultados da educação de mulheres nos anos oitenta e noventa realmente foi de fixar o rótulo de “pervetido” a um ser humano cujo principal desejo era por uma expressão mais ampla de sua humanidade do que a convenção contemporânea permitia, então essa educação era, de fato, algo maligno.

É, de certa maneira, intrigante que essa discussão esteja sendo replicada nos anos 1980 e 1990, enquanto algumas lésbicas buscam, novamente, retomar os estereótipos sexológicos, até mesmo alguns antiquados, já que os tempos são outros, hoje em dia. Uma crítica feminista desses estereótipos era parte de um massivo movimento lésbicas. A reasserção dos papéis sexuais é uma rejeição explícita do discernimento feminista lésbico. Porque as ideias de 1920 que foram adotadas em autodefesa por um grupo de lésbicas que sentiram que não tinham alternativas seria acolhida com entusiasmo por lésbicas hoje em dia, que têm muito mais escolha?

Newton explica seu interesse na discussão sobre sexologia e Radcliffe Hall no fim de seu artigo. Ela se identifica diretamente com a “lésbica masculinizada”. Ela afirma que, como Hall, ela vê o lesbianismo como uma “diferença sexual”. Newton é uma daquelas lésbicas dos anos 1980 que escolheu o modelo sexológico de lesbianismo em oposição ao que ela vê como uma desagradável influência do feminismo lésbicas. Ela acolhe a sexologia com zelo. Toda a linguagem e os conceitos dela a respeito do lesbianismo vêm dessa fonte. Um exemplo é sua missão em busca de uma explicação para o lesbianismo. Feministas lésbicas tendem a não buscar uma explicação porque elas não vêem o lesbianismo como uma condição minoritária, mas como uma escolha positiva para todas as mulheres. Newton busca respostas na psicologia tradicional. Ela diz que ela vê o “erotismo mãe/filha” como “um componente central da orientação lésbica”. Esse é um conceito que deriva da psicanálise. Ela continua, desejando que uma “psicologia feminista” resolva o “enigma da orientação sexual”.

Embora ela pareça ver a adoção de um estereótipo masculino como uma escolha feita com a finalidade de adquirir identidade sexual pelas lésbicas de 1920, ela demonstra em sua conclusão um compromisso com um tipo de determinismo psicológico. Ela afirma que Hall e os sexólogos estavam “descrevendo algo real”, quando descreviam lésbicas masculinizadas. Esse era o fenômeno de “disforia de gênero” ou “um forte sentimento de que o gênero designado a alguém como homem ou mulher não está de acordo com sua noção de si mesmo”. Essa ideia vem da sexologia. Aparentemente, “disforia de gênero” é imutável e não está sujeita à escolha, pois:

Masculinidade e feminilidade são como dois dialetos da mesma língua. Embora possamos compreender a ambos, a maior parte de nós “fala” apenas um. Muitas lésbicas, como Stephen Gordon, são fêmeas biológicas que cresceram pensando e “falando” o dialeto de gênero “errado”.

Não é passível de mudança na idade adulta porque a “identidade de gênero é determinada na primeira infância”. Portanto, Newton argumenta, deveríamos apoiar “mulheres masculinas e homens femininos”, porque “Muitas lésbicas são masculinas; a maior parte tem um estilo composto; muitas são enfaticamente femininas”. É difícil adivinhar exatamente o porquê de Newton ter enfatizado o “são” na frase anterior, a menos que tenha sido para estabelecer a qualidade essencial e inevitável da “masculinidade” lésbica. Essa, nitidamente, não é a abordagem feminista. Feministas lésbicas acreditam, não apenas em função de um compromisso ideológico com o construcionismo social, mas por causa das próprias experiências, que o comportamento humano pode ser mudado. Feministas, afinal, estão demandando que homens mudem seus comportamentos masculinos, um comportamento percebido como asserção do pertencimento à classe opressora masculina, que depende da subordinação de mulheres para a própria existência. Muitos homens pró-feministas estão demandando exatamente a mesma coisa. Contudo, Newton, uma professora de estudos de mulheres na State University, em Nova Iorque, nos diz que a masculinidade de lésbicas butch deveria ser apoiada ao mesmo tempo em que tanto do esforço feminista tem sido dirigido a se livrar dela nos homens.

Newton escolheu “sair do armário” em 1984 como uma lésbica butch. Esta foi, conforme sugiro, uma decisão política, embora Newton não fosse gostar de ver dessa forma. Ela vê a si mesma como essencialmente butch, de alguma forma. Ela diz que não foi capaz de se assumir como butch antes de 984 porque, como uma lésbica de classe média e com educação formal, ela associava o ser butch com a classe trabalhadora que ela via nos bares nos quais se assumiu em 1959. Aparentemente, ela precisava encontrar uma “maneira classe média de ser butch”. Ela encontrou isso em um grupo de apoio às butches em Nova Iorque. Ela diz que foi “uma identidade muito difícil de aceitar para muitas de nós”. Como professora de estudos das mulheres, ela deve ter estado consciente de uma montanha de literatura de estudos de mulheres e de homens buscando desconstruir e eliminar a masculinidade. Provavelmente, é porque estava consciente disso que ela precisou de apoio contra o que ela chamou de “ideologia lésbica feminista dominante”. Parece que as butches no grupo estavam determinadas em performar a masculinidade adequadamente e viram-se atormentadas pela limitação do papel masculino. Os procedimentos do grupo soam como uma paródia não intencional dos grupos de tomada de consciência para homens contra o sexismo nos anos 1970.

Descobrimos que tínhamos uma falta de habilidades sociais, não tínhamos ninguém lá para meio que mediar e iniciar conversas fiadas. A maior parte de nós tinha dificuldade em falar de nossos sentimentos, falar intimamente.

Elas preocupavam-se com coisas como “não sou alta o suficiente. Você é mais butch do que eu.. Existem problemas internos em ser butch? Excesso de controle? Você gostaria de poder chorar mais?”. Mas diferentemente dos homens contra o sexismo, essas mulheres não queriam perder a masculinidade que era uma posse valiosa, apenas aliviar alguns dos problemas que esse comportamento masculino trazia para elas. As “butches” imitavam o comportamento masculino de ódio às mulheres como se espera, já que a masculinidade realmente se baseia na depreciação e na importância de não ser mulher. Outro tópico, ela diz, era “femmes” e “satisfazer certa vontade de reclamar sobre femmes e sobre o feminismo”. Isso parece com o comportamento de criação de vínculos entre homens estereotípicos em bares que estão tentando convencer a si mesmos de que não podem se parecer em nada com mulheres.

Newton parece ter uma verdadeira ambivalência quanto a ser mulher. Em outra época, isso poderia ter sido resolvido em um grupo feminista de tomada de consciência, onde mulheres poderiam discutir em segurança seu auto-ódio como membros da classe de mulheres, desprezada e rebaixada politicamente, e desenvolver orgulho. Ao invés disso, ela escolheu adotar uma masculinidade caricata e fingir que não teve escolha. Como uma mulher inteligente, educada e acadêmica, ela é capaz de transformar sua justificativa pessoal em “teoria” sobre os efeitos positivos da sexologia, que criou o estereótipo butch que ela busca aperfeiçoar. Nos anos 1980, o hábito feminista de auto-questionamento rigoroso e de análise política, aliado à crença na possibilidade de mudança pessoal em prol da liberação individual e de lésbicas, foi derrubado em alguns círculos lésbicas pela crença na identidade inviolável e inevitável ou no destino baseado em sentimentos não questionados de “quem você realmente é”. A ideia de construção social e, certamente, a ideia de que seria bom submeter seus “sentimentos” à análise em um contexto feminista passou a ser visto como um insulto ao conceito de si mesma de outras lésbicas. O feminismo interrompeu a busca pela verdade.

A ideia de historiadores gays, e de Newton, de que as construções sexológicas tiveram um efeito positivo, encontra sua base teórica no trabalho de Michel Foucault. Foucault argumentou que embora a sexologia tenha fornecido a possibilidade de maior controle social por meio da criação da perversão, ela também ofereceu a possibilidade de um “discurso reverso”. De acordo com essa ideia, os objetos da categorização sexológica poderia usar essas mesmas categorias para reagir e lutar contra as forças do poder.

…a homosexualidade começou a falar por si própria, a demandar que sua legitimidade ou “naturalidade” seja reconhecida, com frequência com o mesmo vocabulário, usando as mesmas categorias pelas quais ela era medicamente desqualificada.

O livro de Radclyffe Hall, The Well of Loneliness, foi considerado por algumas estudiosas lésbicas e gays como criador da possibilidade de um “discurso reverso” para lésbicas. Jonathan Dollimore explica que The Well:

…ajudou a iniciar um discurso reverso, no sentido de Foucault: lésbicas foram capazes de se identificar, com frequência pela primeira vez, ainda que na própria linguagem de sua opressão.

Hall fez mais que simplesmente aceitar um status de condenada e marginalizada para lésbicas. Ao se unir a Stephen, “o mártir (religioso) e o marginalizado (romântico)”, uma imagem poderosa foi criada de “uma sensibilidade e integridade superiores sendo perseguidas pelo ordinário e normal”. Dollimore aceita, como muitos outros estudiosos gays, que o “discurso reverso” então criado levou a uma política sexual positiva.

Por mais bizarro que possa parecer agora, muitos desenvolvimentos subsequentes na liberação sexual e na política sexual radical podem ser rastreados até o tipo de apropriação feita por Hall, mesmo aqueles desenvolvimentos que teriam causado repulsa a ela, por exemplo a ideia de desvio sexual como potencialmente revolucionário, subvertendo o centro corrupto e opressor pelas margens desviantes.

A questão, então muito debatida por teóricos gays, é a extensão na qual o movimento pelos direitos homossexuais, que usou tais categorias, foi aprisionado e enfraquecido por elas e o quanto ele foi realmente capaz de subverter as categorias para uso em uma resistência efetiva.

O movimento de liberação sexual que Dollimore tem em mente é, certamente, adequado aos interesses de homens gays. Não se sucede que tais políticas possam parecer tão positivas para lésbicas, que pertencem à classe sexual das mulheres. A adoção das categorias sexológicas por lésbicas, sugiro — embora possam ter parecido úteis na argumentação a curto prazo pela simpatia dos heterossexuais e na oferta de uma identidade definitiva em torno da qual se organizar — que significou que as lésbicas do século XX aceitaram a linguagem e as ideias da sexologia para descrever a si mesmas. Lesbianismo se tornou uma minoria desviante baseada na atividade sexual genital que aceitou causas biológicas ou psicológicas e frequentemente também aceitava as terríveis restrições dos papéis sexuais. Lésbicas foram levadas a se dividirem e dividirem a comunidade em dois grupos de acordo com critérios deveras arbitrários, para buscarem suas amigas em um e suas amantes em outro, e a modelagem seus comportamentos de acordo com os comportamentos inapropriados e inventados por homens da masculinidade e feminilidade. Lésbicas foram também efetivamente separadas de outras mulheres e feministas, como uma minoria desviante e separada, estavam sob controle.

É compreensível que historiadores gays sejam mais positivos a respeito do impacto da sexologia, porque a situação histórica de homens homossexuais foi muito diferente da de mulheres. Os sexólogos associaram a inversão sexual em mulheres ao feminismo e iniciaram ataques danosos ao movimento das mulheres. Os sexólogos não viam homens homossexuais como representantes de um movimento de liberação social que temiam. Amizades íntimas é outra maneira na qual a história de homens homossexuais é diferente. Pouca história sobre amizades íntimas entre homens foi escrita. Se o potencial de homens para tais amizades tivesse sido prejudicada pela construção da sexologia, e pode muito bem ter sido, essa não foi uma preocupação da história gay. Homens gays podem se satisfazer com o status de desviantes, uma vez que são membros da classe opressora e não precisam lutar contra o status de sua classe sexual. A ortodoxia foucaultiana não se encaixa, necessariamente, na realidade de lésbicas. Foucault não deu a lésbicas, afinal de contas, qualquer consideração — e deu muito pouca a mulheres. É uma medida do poder da cultura e da teoria gay masculina em definir as políticas sexuais, particularmente na academia, que um modelo tão inadequado seja visto como sendo aplicável a mulheres bem como a homens.

É precisamente o modelo sexológico do lesbianismo que está sendo adotado mesmo nos anos 1980 e 1990 por aquelas lésbicas que mais se opõem ao feminismo. Tais lésbicas estão conseguindo se encaixar nos livros médicos e acreditam que estão falando a “verdade”, que a sexologia é a “verdade”, sobre si mesmas. É difícil entender porque o modelo médico deveria, repentinamente, ter uma nova moeda de troca a essa altura. Estudantes gays me sugeriram que isso se relaciona ao modo como a profissão médica está reafirmando seu domínio sobre a homossexualidade masculina por causa de sua importância na epidemia de AIDS. Mas isso não pode explicar como lésbicas como Esther Newton escolheu esse modelo no início dos anos 1980. Entender o apelo do modelo médico é um dos projetos de A Heresia Lésbica.

O impacto das ideias da sexologia e da década de 1920, em especial, pode agora ser visto como essencial, se não na construção da identidade lésbica, então ao menos no debate contemporâneo da sexualidade lésbica. Feministas lésbicas e lésbicas da “diferença sexual” vêem esse período histórico de maneiras muito diferentes. A década de 1920 pode ter mais relevância direta para o presente. Podem haver algumas pistas no que aconteceu nos anos 1920 para rasgar a comunidade lésbica nos anos 1980. Assim como algumas lésbicas adotaram as categorias sexológicas na época para entender a experiência delas e descobriram que isso conflitava com o entendimento feminista da sexualidade; agora, as lésbicas da liberação sexual têm usado a sexologia novamente para explicar seu lesbianismo em termos de biologia, diferença sexual, butch e femme e com uma rejeição similar à teoria e à prática feminista.

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