Acesso à saúde e à higiene menstrual é um direito. Ponto final.

Carla Gomes (@carlahenriqueg)
4 min readMay 29, 2019

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Por Elizabeth Payne
Original disponível em: https://www.theguardian.com/commentisfree/2019/may/28/access-to-menstrual-health-and-hygiene-is-a-right-period

Fotografia: Plan International. Placa colocada nas escolas do distrito de Toronto, em Uganda, com o dizer “Menstruação é normal para meninas”

Nesse momento, 800 milhões de meninas e mulheres estão menstruando: então, porque esse ainda é um “assunto feminino secreto”?

Aquela época do mês, chico, regra, paquete, lua, aqueles dias, menstruação.

Existem mais de 69 termos diferentes que usamos globalmente para descrever a menstruação para além da palavra em si. Temos tantos códigos e eufemismos porque, em 2019, infelizmente, muitas de nós ainda ficamos desconfortáveis em falar abertamente sobre menstruação. Você não acha que está na hora de superarmos isso?

No mundo todo, meninas, mulheres, pessoas transgênero e intersexo sofrem com o estigma da menstruação por meio de bullying, tabus culturais, discriminação e a impossibilidade de adquirir produtos sanitários — conhecida como pobreza menstrual.

De acordo com a Plan International, em Uganda, 28% das meninas faltam às aulas quando estão menstruadas, enquanto nas Ilhas Salomão, 63% das mulheres não conseguem comprar absorventes.

Pobreza menstrual também é um problema na Austrália. Um relatório, publicado em 2017, declarou que meninas em algumas comunidades indígenas remotas perdem aulas regularmente quando menstruam, por causa do preço proibitivo dos produtos de higiene.

Felizmente, estamos vendo agora uma onda de progresso para erradicar a pobreza menstrual e o tabu envolvendo a menstruação. Em janeiro, o imposto sobre os absorventes foram removidos na Austrália depois de uma campanha longa e árdua. Absorventes internos, absorventes externos, coletores menstruais, absorventes pós-parto e calcinhas absorventes não são mais taxados como bens e serviços, possibilitando que famílias em dificuldade financeira economizem, todo mês, um dinheiro precioso.

A remoção desse imposto leva a uma economia de $30 por ano para os consumidores australianos. Também envia uma mensagem cultural muito importante — que produtos sanitários são e sempre foram essenciais e que ninguém deveria ser penalizado financeiramente por algo tão simples como menstruar.

Victoria introduziu absorventes internos e externos gratuitos nas escolas estaduais, algo inédito no país. Sua justificativa foi impecável: o acesso a produtos sanitários não deveria ser uma barreira para se ter uma boa educação; certamente isso poderia ser aplicado nacionalmente.

Me lembro vividamente uma experiência que tive no ensino médio em que não havia tempo o suficiente entre as aulas para que eu trocasse o absorvente. Meu absorvente vazou e sujei minha saia. Humilhada, me escondi no banheiro, sem saber o que fazer. Finalmente, fui à secretaria, dizendo estar doente. Por sorte, os funcionários imaginaram o que poderia estar errado e me ofereceram alguns absorventes.

Vazamentos acontecem, e essa experiência já é ruim o bastante — mas para uma adolescente, não saber para onde ir, com quem falar ou como conseguir ajuda na escola, juntamente com o medo da ridicularização pelos colegas, é muito pior.

A iniciativa de Victoria de colocar produtos sanitários gratuitos nas escolas não só significa que esses produtos vitais estarão acessíveis a garotas que precisem deles, é um divisor de águas em reconhecer que a menstruação acontece e não deveriam jamais ser um obstáculo para a educação de garotas. Ela deveria ser adotada nacionalmente, em cada estado e território, algo que a Plan International apoia.

Esse ano também nos apresentou a um novo emoji de menstruação, depois de uma longa campanha para dar a meninas e mulheres ferramentas para conversarem sobre suas menstruações e dissipar o tabu. A mera gota de sangue torna a discussão sobre menstruação mais acessível. Precisamos celebrar todas essas vitórias, mas, ao mesmo tempo, devemos reconhecer que o estigma sobre a menstruação ainda está enraizado no mundo todo. Ele varia de um tabu social até uma questão de vida ou morte (meninas têm morrido ao serem banidas para “cabanas da menstruação” no Nepal, por exemplo).

O que podemos fazer? Podemos começar por discussões abertas e sem julgamentos com amigos. Menstruação pode ser de tudo, desde engraçada até irritante, então porque não falar sobre isso tudo? Essas discussões não deveriam ser “conversa de mulheres”. Quanto mais excluímos homens dessas conversas, mais difícil é para empatizarmos uns com os outros e derrubar barreiras.

Para os pais, considerem as mensagens que vocês passam para suas crianças. Se elas não se sentem confortáveis conversando com vocês sobre menstruação, será muito mais difícil para elas conversarem isso com outras pessoas.

Você pode doar produtos sanitários para as instituições Share the Dignity’s collection drives ou Plan International Australia , que estão debatendo o estigma da menstruação globalmente.

Todo mundo deveria ter acesso a produtos para a menstruação, a locais limpos para o descarte e à linguagem para discutir suas experiências.

É papel dos governos ao redor do mundo reconhecer que esse acesso à saúde e à higiene menstrual é um direito e trabalhar para um futuro livre desse estigma.

Ponto.

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